quinta-feira, 26 de março de 2015

Elias o dono da bola.

Hoje como todos os dias desta viagem acordei cedo com o cantar dos passáros e a luz do sol forte. Aqui o sol demora a nascer mas quando nasce é para aquecer mesmo. Me preparei para mais um dia de incurssão ao interior da Guiné Bissau para continuarmos o processo de certificação.
Prédios de Falacunda
Hoje conheci a região de Falacunda e Tite, local onde o povo Guineense venera, foi aqui que foi dado o primeiro tiro da Guerra da Libertação na década de 70. No caminho já se dava para ver a influência portuguesa com árvores grande plantadas na beira da pista principal para fazer sombra. E muitas tabancas pelo caminho, tabanca é o nome dado às vilas aqui, muitas crianças e um fato curioso, todas com um caderno da UNICEF nas mãos.
Conversando com meu amigo Salvador, Coronel da POP, fiquei sabendo que os jovens chegam a andar 20 km para poder ter acesso ao ensino, que normalmente é em escolas com pouca ou nenhuma estrutura. O que apesar de ser dificil não tira o sorriso dos jovens à beira pista a nos acenar enquanto nosso comboio de viaturas brancas passava.

Rodoviária
A primeira cidade foi Falacunda, onde pude ver, como em outras cidades, muitas construções da época da Colonia e uma coisa que me chamou a atenção foram os postes, todos sem fio, pois não há mais a geração de energia elétrica no local para atender a população, desta forma os postes ficam sem utilidade nenhuma. Nesta cidade vi vários prédios em estado precário, e algumas construções feitas à maneira tradicional Guineense, com blocos de barro comum. Uma sensação de cenário de filme pós apocalipitico.
Seguimos em direção a Tite, que fica do outro lado do Rio Geba que corta o país e o trás muita riqueza. No caminho, à beira da pista avistávamos material para ser vendido como blocos, palha de teto, tapumes de bambu e frutas.
Ao chegar em Tite fiquei sabendo que lá não era simplismente um quartel, foi  onde começou toda a revolução que levou à independencia da Guiné Bissau, sem muita cara de cidade, vi vários prédios, que aparentemente eram do quartel, totalmente abandonados. E uma coisa me chamou atenção, um menino solitário que os olhos brilharam quando chegamos.
Escritório de Certificação
Chegamos ao local onde fica a estação regional, um prédio sem nenhuma manutenção que ao lado tinha uma das guaritas do antigo quartel. Em Tite montamos o ponto de atendimento do Vetting debaixo de algumas mangueiras. E quase de imediato aquele menino não estava mais sozinho, alguns amigos pequenos também chegaram, dentre eles um que mais tarde iria conhecer como Barack Obama, isto mesmo o nome dele é este.
Como em toda cidade peguei minha câmera e fui tirar algumas fotos e ao voltar me dirigi aos meninos que estavam a nos observar, dentre eles o menino solitário que havia visto ao chegar. Sempre quando começamos a conversar aqui usamos o cumprimento. – Kuma? Stá dirituComo sempre um sorriso se abre no rosto dos meninos ao verem um branco pelele, sim é assim que nós muito brancos somos chamados aqui, como um Branco pelele fala Kriol e respondem com aquele sorriso contido. Perguntei os nomes deles e a maioria tinha nome ocidental e soube o nome do pequeno solitário, Elias. Brinquei com eles um pouco e resolvi oferecer uma foto deles para eles, eles aceitaram e ficaram eufóricos, neste momento vi algo interessante.
Restos da Guarita do antigo quartel
O pequeno Elias estava sozinho por não ter irmãos e os outros no momento de acertar as coisas não levavam em conta muito a opnião dele. Coloquei todos juntos e tirei uma foto, mostrei para eles e aguardei nossa equipe montar o material para eu , "Laba foto". Perguntei então quais eram irmãos de quais, e o pequeno Elias ia de um grupo para o outro e os irmãos o empurravam. Daí resolvi imprimir uma foto por família para que eles pudessem guardar e o pequeno Elias ficou com uma foto só para ele.

Começamos o trabalho e esta notícia que tinha alguem tirando foto correu rápido e vários adolescentes vieram para perto para ver se conseguiam também. Como sempre comecei a conversar com os meninos e sempre quando sabem que sou Brasileiro eles vem falar de Neymar e Ronaldinho. Perguntaram da minha vida e falei e na hora que souberam que era o meu brevet de paraquedismo começaram a se imaginar voando, um falou que iria comprar um paraquedas e os outros fizeram chacota, daí com uma sacola e uma pedra e um pedaço de pano fiz um paraquedas de bricadeira, em alguns minutos tinham dezenas de meninos jogando paraquedas de sacola plástica para o ar.
Elias e sua turminha.
Já neste momento o pequeno Elias não soltava minha mão, segurar na mão aqui é sinal de amizade, e eu comecei a chamar ele de amigo. Fui conhecer o hospital onde pude conversar com um padre brasileiro que estava lá, conheci o diretor do Hospital e ao lado sempre estava o pequeno Elias, quando entrei pedi para que ele ficasse e ele obedientemente ficou.
Na hora de ir embora, fiquei com algo na cabeça, como ajudar aquele meu amigo pequeno que tinha acabado de conquistar a amizade, andei em algumas barracas da tabanca e ví uma bola e a comprei por US$  2,5 e quando voltei para terminar de guardar as coisas do escritório improvisado, os meninos não entenderam porque eu estava com aquela bola na mão, daí eu chamei – Amigo bim aqui, iste bola i pa abo. (Amigo vem aqui, esta bola é para você), e comecei uma rápida conversa em Kriol , perguntei se conhecia Deus, ele disse que SIM, completei a pergunta, você conhece Deus por Muhammed ou por Jesus, ele me disse Zesus, então disse, seja um menino bom porque Jesus te ama e ele manda pessoas do outro lado do mundo para dar presentes. Ele pegou a bola e uma amiga da Guarda Nacional, o interpelou, - Diz obrigado. E ele com olho cheio de lágrimas falou obrigado.

Este meu ato com o Elias foi para poder tentar levar um jovem solitário a ter algo que possa o colocar em evidência e como dizemos no Brasil, todos querem ser amigo do dono da bola. E sempre que eu puder fazer algo para ajudar ou tirar o sorriso de uma pessoa eu o farei em nome de Jesus.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Sistema de trabalho nas nações unidas

Equipe mista do Processo de Certificação 2015
      Muitos tem o sonho de servir nas nações unidas e com toda certeza tem vontade de trabalhar muito por pouco dinheiro. Existem várias carreiras nas Nações unidas para você ter uma idéia acesse www. careers.un.org . Aqui vamos falar um pouco do serviço de UNPOL e da minha experiência aqui na Guiné Bissau.
        O trabalho de United Nations Police (UNPOL) é considerado seconded ou destacado ,  contrato diferenciado de todos os demais na ONU, enquanto alguns tem vários direitos nós não dispomos de tantos. Então leia bem sobre a função que deseja desempenhar para não ser pego de surpresa
       Quando eu cheguei na Guiné era uma noite como outra qualquer, já cheguei com um Stress forte, pois havia perdido minha mala como vocês já leram, primeira semana , no outro dia logo cedo comecei a trabalhar, aqui trabalhamos de segunda a segunda e como compensação temos o CTO (Compensatory Time Out), que é calculado 0.2 dias de folga por cada dia trabalhado. Normalmente acumulamos os CTO para fazermos viagens, visitar a família. Destes dias só podemos tirar 12 de cada vez, podendo somar com os dias de AL (Anual Leave) que são as férias anuais, o qual também só pode somar 12 dias. Algumas vezes pode-se tirar 24 dias de uma só vez. A melhor coisa é começar a programar desde o primeiro dia.
Policiais da Esquadra de Buba
           Você deve estar se perguntando o que se tem tanto para fazer que não se tira folga semanal, eu explico, onde tem uma missão de paz é porque se necessita de ajuda e não é ajuda pontual, as nações unidas não mantém missões só por capricho, quanto mais você quiser e puder, mais irá trabalhar. No nosso caso que é uma missão do DPA (Departament of Political an Affair) onde nosso serviço é mais técnico e de assessoria, nos finais de semana normalmente estamos em serviço interno coordenando as atividades da próxima semana. No meu caso eu estou em campo trabalhando com programas sociais.

     Dentro da Missão também temos as viagens internas  as quais nos cobram mais que o normal, e durante estas viagens você tem a chance de ver a realidade longe das áreas de maior atuação da ajuda humanitária. Durante estas viagens recebemos um pouco a mais na diária para compensar os gastos o que chamamos de DSA.
       Falando em remuneração os UNPOLs recebem o MSA (Mission Subsistence Allowance) Subisidio para subisistencia. O valor varia de missão para a missão, pode ser de US$ 56 por dia à US$ 180. Temos que lembrar que a vida em locais de crise para os internacionais é mais cara. Como normalmente o estado está ausente, o controle inexiste por isso os preço para nós chegam a ser maiores do que em lugares caros no mundo. Lembrei também dos Policias que não recebem salário em seus países e ainda precisam enviar dinheiro para casa, deixando a vida ainda mais dificil.
Combatentes da Guerra da Libertação de 74 Ainda na ativa
       Em se falando de família, nas missões não se pode levar familiares e quando os UNPOLs decidem fazer, como eu, fazem por conta e risco, pois em caso de problemas somos os últimos a serem evacuados e a ONU não se responsabiliza por seus familiares. Sei que muitos não trazem estes por não se ter muita opção, mas se tiver como as crianças estudares, o que não é o caso da Guiné, recomendo que os levem, pois eles poderão amadurecer muito vendo as dificuldades reais do mundo. Desta feita tem que se ter um plano de evacuação próprio para a Família. Aqui na Guiné Bissau os golpes de estados são recorrentes e a segurança nós que provemos.
        Então sem mistério, na missão pode-se trabalhar muito, corremos risco de vida sim, muitos funcionários das Nações Unidas já morreram este ano, pode-se ganhar bem, como pode se fazer dívida como é meu caso.

       Prepare sua mente, seu corpo e espirito, se vier para uma missão venha para ajudar aqueles que precisam e esqueçam que o dinheiro não compensa o sacrifício.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Entendendo a diversidade

Todos que se voluntariam para uma missão estão muito ou totalmente empolgados, desde que somos selecionados para uma determinada missão começamos a estudar sobre o povo do local os problemas e tudo que tem haver com a situação que iremos nos deparar. Cada um tem uma experiência de vida e que fazer o seu melhor.
Aulas de Defesa Pessoal
Quando iniciamos os trabalhos acreditamos que temos todo o conhecimento para “salvar o mundo” e muitas vezes esquecemos de alguns detalhes essenciais do trabalho o “cultural respect” ou respeito cultural, de uma forma infantil pensamos que este respeito é só com relação a roupasreligiões e costumes sociais, mas aprendemos que vai bem além disto, aliás isto é só a ponta cultural de um povo. O respeito cultural passa por entender as raízes de habitos comuns de um povo tal como seu tempo e seus objetivos, vivendo este pouco tempo na missão já aprendi isto, nenhum povo vê o mundo da mesma forma, poderia aqui descrever algumas generalidades de alguns povos, mas não vem ao caso. O importante é analisar sob a luz da sociologia histórica e contruir sua forma de trabalho sobre a egede da psicologia social.
Este respeito cultural que sitamos tem que ser orientado para um empoderamento nacional, onde todo seu trabalho tem o objetivo de levar as pessoas , os nacionais  como chamamos, a pensarem seus próprios caminhos e você trabalhar como agente catalizador de conhecimento global e direcionador de ações.
Não pode fazer parte deste trabalho a intolerancia e falta de perseverança, pois as ações em países onde a ONU se faz presente tem que ser feitas com calma e respeito, muitas ações só se pode mensurar seus resultados anos ou década depois e nossa estada aqui é de no máximo 3 anos.

A Esquadra Modelo

Nos últimos dias existiram algumas situações as quais me levaram a procurar entender mais cada uma destas ações como Police Adviser. Vou aqui contar para vocês.
Fui designado como ponto focal de uma unidade de polícia modelo, a função do ponto focal é se dedicar diretamente a missão de desenvolver atividades de melhoria, sendo a ligação dos
Primeira Esquadra Construida pela ONU

Nacionais com o Sistema das Nações Unidas. Ainda fico espantado com situação de ser o representante de centenas de países que compõe as Nações Unidas..

A Esquadra Modelo ou MPS como chamamos internamente, foi projeto criado por policiais como eu e teve sua execução iniciada por brasilieiros, a construção foi acompanhada pelo atual comandante geral da PMDF Cel Cezar e após a construção se seguiram vários policiais os quais cumpriram seu papel de monitorar, supervisionar e assessorar fazendo com  que chegassemos até o dia de hoje. Cada um com sua forma de trabalho e visão de mundo. Mas como todo sonhandor cheguei com gás e resolvi aprimorar o projeto, saindo um pouco do convencional e aplicando todo o conhecimento que adquiri como PM no DF.

Respeitando a forma dos Guineenses pensarem venho propondo e articulando ações, para melhorar o ambiente, ganhar a confiança da população e trazer ações eficazes na transformação da comunidade. Trabalhando na orientação de trabalhos desde os mais simples até os mais complexos e com o conhecimento do Policiais envolvidos já se pode ver alguns resultados e com toda certeza em pouco tempos teremos mais e melhores para contar.