segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Minha casa , uma vida . . . Em buba

Como os leitores já sabem estou em uma Family Mission (Missão familiar) e assim sendo temos que procurar meios de nos alojarmos e levarmos nossa vida sem muito apoio das Nações Unidas em questões de alojamento e tal.
Vista frontal da casa. Sempre que chego os pequenos vem
Fui enviado para Buba local que até então não tinham casas que atendiam ao Mínimo de Segurança que as Nações Unidas, o qual tem uma série de itens de segurança necessário em nossas casas. Chegando em Buba andei e procurei casa e com o apoio do UNPOL Rui, um timorense que de tanto viver aqui já estava completamente aclimatado. O Rui me mostrou uma casa que poderia atender os requisitos do MORSS(regras de segurança para residência). Peguei o contato do dono e fui negociar com a base que ele já tinha acertado com o proprietário. Mas como sempre aqui os brancos são discriminados e pagamos preço diferente para tudo, o proprietário não manteve uma série de coisas pré acertadas, como era usual aqui o fornecimento de empregada doméstica.
Com toda a conversa acertamos que a casa em 15 dias estaria com água, não há fornecimento de água e nem energia publica na cidade, e com todo o encanamento pronto. Não consegui baixar o preço e para cumprir a missão iria pagar o valor de uma casa na capital com todos os serviços. Para ficar bem ilustrado para vocês uma casa da forma que estava alugando aqui na cidade seria R$ 400 (quatrocentos reais) e acreditando na melhoria da casa iria pagar R$1500 (mil e quinhentos reais).
Garagem
Então me mudei para Buba, em 2 semanas e logo saí de CTO (Tempo compensatório de folga) fiquei 24 dias fora e voltando para casa acreditei que já teria água e para minha tristeza não tinha nada, nem o poço estava furado. Você deve estar perguntando como fazemos sem água em casa, aqui temos duas opções, trago galões com água do escritório das nações unidas ou vou ao poço publico e utilizo a bomba manual para pegar água. O poço mais próximo da minha casa fica a 500 metros.
Então não era só isso, o calor aqui em tempo normal é de 30 graus com umidade perto dos 100% sempre. Como eu já tinha gerador de energia movido a diesel, sempre tinha energia elétrica das 8h da noite às 2 da manhã. Mas vamos lembrar, minha amada esposa veio comigo e ficava em casa sem muitas condições de nada. Investi um bom dinheiro e horas de estudo para colocar um painel solar em casa, coisa que logo fiz. Daí durante o dia agora se pode assistir um filme do HD com 1 Tb de filmes e carregar os celulares. Temos energia durante todo o dia, isto para nós é um ponto a mais que a capital que sofre com cortes constantes de energia elétrica.
Os dias iam passando e vieram fazer o furo, o tempo foi tão longo que assim quando furaram o poço eu entrei de CTO novamente. Voltando mais uma vez me deparei com um poço sem utilização, pois a água estava suja demais e estragando as bombas.
Chamei a segurança das Nações Unidas para fazer a vistoria de segurança da casa, a qual foi reprovada por, não ter muros, os muros teriam que ter ainda arame farpado. Não possuía grade na frente que fechasse o lote. Seria necessário que comprássemos ainda extintor, maleta de primeiros socorros, mantivéssemos reserva de diesel para 10 dias no gerador, água para beber para 10 dias e segue a relação.
Quintal
Compramos vários móveis para a casa, pois  dono só forneceu cama, guarda roupa, fogão e mesa. Daí, compramos uma geladeira a gás que a mesma começou gelando e agora só refresca no congelador, a parte de baixo virou armário seguro de insetos, e olha que isto aqui tem muito. Compramos também um jogo de sofás feito de uma espécie de capim bambu, louças e coisas de casa.
Ficamos com medo, pois se a segurança não aprovava a casa era sinal que estávamos em perigo. Cabe lembrar que o ânimo do pessoal aqui muda muito rápido e as coisas podem ficar perigosas.
O estresse era grande, estava empregado sozinho no escritório, somos treinados como policiais onde a unidade mínima de emprego é 2 PPMM. A região que moramos fica a menos de 100 km de área com morte de Ebola e a fronteira é atravessada todos os dias por pessoas que podem ter contato com estas pessoas.

Mas vamos a casa, para melhorar a vida da minha esposa guerreira, comprei um ar condicionado portátil e começamos a utilizar todos os dias das 20h às 2h. Depois usamos um ventilador para evitar a combustão humana espontânea.
Há alguns dias fui questionar o dono da casa sobre o nosso acordo inicial e o mesmo ficou ofendido por eu querer uma revisão, pois estava pagando muito por uma casa que não valia aquilo tudo, o homem chegou ao ponto de parar de falar por querer chorar. Mas revimos o contrato e estamos seguindo.
Casa do Gerador e bateria para o sistema solar
A alimentação é outra coisa interessante, já como não temos congelador, tivemos que nos readaptar, comendo galinha e peixe fresco e utilizando as comidas que não precisam de frio para se conservar. Na cidade só tem algumas tabernas que vendem algumas coisas básicas para os guineenses, dai já viu a falta que sentimos de coisas simples.
Fazemos nossas compras em Bissau uma vez por mês e tentamos comprar tudo que precisamos, porque se esquecemos, ficamos cerca de um mês sem ter onde comprar. Verduras aqui são poucas e praticamente sem variedade. Compramos dezenas de blisters de água mineral para beber, comer e escovar os dentes.
Nos últimos tempos começaram as chuvas, daí o sofrimento da água diminui, captamos águas de chuva para os serviços de casa e para o banho.
Hoje estamos bem e realmente em um teste de bushcraft, superamos as dificuldades, continuamos sem água, mas estamos seguros, pois o muro e as grades estão no lugar e a segurança quando não dorme está alerta.

sábado, 20 de junho de 2015

Hoje Deus falou ao meu coração.

Estou em um local onde se faz necessária a ajuda da Organização das Nações Unidas​ e eu sou seu representante e de mais 193 países.
A missão tem como objetivo de fortalecer a paz, fiscalizar a aplicação dos direitors humanos e estimular o empoderamento nacional de um país que está entre os 10 mais pobres do mundo.
Diante disto fico pensando. . .
Trabalho na Região Sul da Guiné Bissau, a área mais pobre do país. Onde o transporte é precário, a tradição leva as pessoas a praticarem atos contra a liberdade e a subnutrição é comum.
O que eu um simples policial pode fazer diante de um mar de problemas?
Muitas vezes me pego em pensamentos profundos e as vezes até sonhando com a solução para cada problema que é apresentado.
Admito que me sinto fraco diante de muitos desafios, mas é daí que me vem uma voz, vinda do alto e ecoando e meu coraçãome diz.
Meu filho eu te escolhi desde o ventre da sua mãe, te deixei impaciente, não te dei beleza, te deixei crescer em um local humilde, o qual muitos falavam que era perigoso. Nunca te dei uma vida tranquila como a vida dos que te rodeiam.
Não te trouxe para minha casa cedo, pois queria que você aprendesse com a experiência. Ver algumas práticas e por momentos até acreditar nelas, para no momento certo você poder entrar na minha casa como alguem que conhece o mundo. E hoje mesmo distante da sua igreja mãe no Brasil você pode congregar em um dos melhores lugares minha casa em Bissalanca.
Jornada Eficiência II de Taguatinga DF A Edilândia GO
Lembra quando criança, enquanto alguns amigos ficavam na cidade jogados aos seus vícios púberes. Eu te fiz escoteiro, te mandei para lugares que poucos gostariam de estar, mas vi prazer em seus olhos, lá você conheceu outras culturas, sofreu e aprendeu. No calor das fogueiras forjei teu carater. Nas leis escoteiras te mostrei o caminho a seguir, nas etapas que conquistava, com certa facilidade, te dei conhecimento e aqueles distintivos que mal cabiam em seu uniforme nada são diante daquilo que estás fazendo agora, teu reconhecimento cabe tão somente a Mim.
Quando chegou a sua juventude não te fiz comandante, pois maior é aquele que serve. Te fiz praça de polícia, você que tempos antes tinha cabelos longos, e aparentava sem futuro, lembra-te que esta frase você escutou muito. 
Como soldado você aprendeu o valor da obediência, mas como te fiz por cabeça e não cauda foi adiante. Rapidamente utilizando aquilo que já havia aprendido, foi promovido, não por mérito próprio, mas por permissão Minha. Te deixei decepcionar, mas para me honrar, pois com sua reprovação fiz com que você enxergasse coisas que outros não viam e assim pude ajudar outra centena de filhos meus, que sofriam há anos na PMDF.
Abertura Regional FET DF

Coloquei você a frente de uma mutidão de jovens e não de velhos, para você aprender como lidar com espiritos novos como o seu, que sempre tem sede de mais. Como escoteiro chefe está aprendendo muito mais do que ensina a estes que acreditam em ti, mas não se iluda, estão contigo para o cumprimento de algo maior. Fazer com eles o mesmo que Eu tenho feito contigo.
Te dei três filhos e permiti que passasse coisas desagradáveis em seus relacionamentos sofreu, chorou e ainda sofre com a distancia de seus filhos, mas lembre-se não te desamparei, te dei a mulher mais preparada para estar ao teu lado na minha obra, hoje na Guiné Bissau.
Mas como hoje quero te mostrar o quão capaz és e venho falar dos problemas deste povo sofrido. Você que está tão distante de seu lar, mas irá cumprir meu propósito com meu povo, através do seu trabalho.
Não esqueça cada coisa que passou, casa simples, noites mal dormidas, ordens absurdas e frustrações. Pois tu as sentirá e as viverá novamente, mas tenha a certeza que no final será vitorioso.
Então lute e solucione cada problema que chegar a você com o máximo de presteza e profissionalismo. Ajude dioturnamente, pois um dia te darei seu momento de descanço. Não se esqueça dos compromissos assumidos que devem ser mantidos e siga em frente ajude meus filhos da Guiné Bissau.
Nota do autor: Iniciei o texto para falar um pouco sobre as minhas dificuldades, mas Deus usou o mesmo para me fazer mais forte.

Vamos em frente BLUE BERET

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Segunda Seleção 2015 para Policial das Nações Unidas

Muitos desejam, poucos são aprovados e uma pequena e seleta parte é UNPOL (United Nations Police).
Se você deseja ajudar a mudar o mundo através de seu trabalho como Policial Militar esta é uma grande oportunidade para isto. O Brasil como membro das Nações Unidas tem Policiais nas mais diversas missões no mundo, onde eles atuam desde como Oficiais da Lei e da Ordem até como assessores de assuntos policiais ao redor do mundo e em diversos organismos.
Se está na ativa ou com menos de 5 anos de reserva, não são aceitos reformados, está em dia com as normas policiais brasileiras porcure sua Diretoria de Pessoal ou de Ensino e faça a seleção.
Após selecionado você entrará para uma lista de Policiais da mais alta estirpe que estão prontos para ir para as missões de paz.
Na PMDF as inscrições estão abertas e este edital pode servir de base para as demais polícias.

Edital PMDF

domingo, 26 de abril de 2015

Um novo horizonte dentro da Missão

Sede da Polícia da Ordem Publica de Buba
Faz duas semanas que recebi a determinação, do Assessor Senior de Polícia de transferência para o escritório de Buba, no sul da Guiné-Bissau e fronteira com a Guiné Konakri, a fim de compor o efetivo e me preparar para assumir o escritório por 6 meses.
Buba é a capital do estado de Quinara, local servido por um braço de mar que forma as Lagoas de Kufada, uma região com grande potencial, mas atualmente a mais pobre do país por força do seu isolamento.
Quando estamos no campo tudo muda, nossa visão se modifica e aqui não está sendo diferente, estou saindo de um ritmo acelerado do escritório principal onde na seção de recursos humanos e treinamento tinha um ritmo forte e agora aqui as missões são outras, por exemplo, agora trabalhamos com todas as forças de segurança, acumulamos as funções de diversos escritórios, somos a UNIOGBIS na região e como tal temos que atender a várias demandas.
Transporte público de Buba
Uma das coisas que notei claramente é que aqui poucos falam português e estes falam pouco português e muitas vezes fica dificil de ser entendido, o Kriol Guineense é baseado no português de portugal em sua forma e sotaque e nós brasileiros como nossa maneira de falar muitas vezes dificulta a comunicação e imagina eu que já falo rápido e embolado, fica muito mais difícil.
No escritório atualmente só trabalham os UNPOL’s em número de dois por enquanto e um agente de segurança, é um prédio grande com várias salas e poucos recursos, agora é arregaçar as mangas e tirar água de pedra. Estou sendo obrigado a mudar minha maneira de trabalho, pois o ritmo aqui é bem devagar e muitas vezes nos incomoda, mas não podemos acelerar o tempo dos locais e sim tentar diminuir o nosso.
Secretário de Buba, Maquina de Escrever é realidade
O Organismo sente a  mudança, em nossa realidade estamos acostumados a um rítmo frenético de acontecimentos e ações e aqui não, cada ação acontece por sua vez e na sua velocidade e nosso cerebro e corpo demoram a se acostumar, eu ainda não acostumei com esta velocidade, faço minhas tarefas no rítmo normal e fico muito tempo no aguardo da próxima. Muitos devem estar pensando porque não aproveito o tempo de forma melhor e vou ler um livro, respondo prontamente, vim com o foco de trabalhar nas nações unidas e minha mente doutrinada para pensar soluções, então fico montanto e arquitetando projetos para tentar implantar por aqui, sem perder o foco com outros problemas.
Posto de Gasolina
Outra coisa interessante é que sem ter acesso a informação parece que o tempo parou, fico por dias sem saber notícias, estou a meses sem ver televisão então para mim o mundo está como estava em dezembro do ano passado, fora o pouco que chega e as vezes choca, como a morte dos nossos amigos das Nações Unidas nos países vizinhos.

Então preciso alterar meu ritmo que já é acelerado para os padrões normais e começo minha nova missão de uma forma inusitada para mim, mas crendo que Deus está me preparando para coisas novas em lugares novos com pessoas novas.

Uma vida com outro ritmo



quinta-feira, 26 de março de 2015

Elias o dono da bola.

Hoje como todos os dias desta viagem acordei cedo com o cantar dos passáros e a luz do sol forte. Aqui o sol demora a nascer mas quando nasce é para aquecer mesmo. Me preparei para mais um dia de incurssão ao interior da Guiné Bissau para continuarmos o processo de certificação.
Prédios de Falacunda
Hoje conheci a região de Falacunda e Tite, local onde o povo Guineense venera, foi aqui que foi dado o primeiro tiro da Guerra da Libertação na década de 70. No caminho já se dava para ver a influência portuguesa com árvores grande plantadas na beira da pista principal para fazer sombra. E muitas tabancas pelo caminho, tabanca é o nome dado às vilas aqui, muitas crianças e um fato curioso, todas com um caderno da UNICEF nas mãos.
Conversando com meu amigo Salvador, Coronel da POP, fiquei sabendo que os jovens chegam a andar 20 km para poder ter acesso ao ensino, que normalmente é em escolas com pouca ou nenhuma estrutura. O que apesar de ser dificil não tira o sorriso dos jovens à beira pista a nos acenar enquanto nosso comboio de viaturas brancas passava.

Rodoviária
A primeira cidade foi Falacunda, onde pude ver, como em outras cidades, muitas construções da época da Colonia e uma coisa que me chamou a atenção foram os postes, todos sem fio, pois não há mais a geração de energia elétrica no local para atender a população, desta forma os postes ficam sem utilidade nenhuma. Nesta cidade vi vários prédios em estado precário, e algumas construções feitas à maneira tradicional Guineense, com blocos de barro comum. Uma sensação de cenário de filme pós apocalipitico.
Seguimos em direção a Tite, que fica do outro lado do Rio Geba que corta o país e o trás muita riqueza. No caminho, à beira da pista avistávamos material para ser vendido como blocos, palha de teto, tapumes de bambu e frutas.
Ao chegar em Tite fiquei sabendo que lá não era simplismente um quartel, foi  onde começou toda a revolução que levou à independencia da Guiné Bissau, sem muita cara de cidade, vi vários prédios, que aparentemente eram do quartel, totalmente abandonados. E uma coisa me chamou atenção, um menino solitário que os olhos brilharam quando chegamos.
Escritório de Certificação
Chegamos ao local onde fica a estação regional, um prédio sem nenhuma manutenção que ao lado tinha uma das guaritas do antigo quartel. Em Tite montamos o ponto de atendimento do Vetting debaixo de algumas mangueiras. E quase de imediato aquele menino não estava mais sozinho, alguns amigos pequenos também chegaram, dentre eles um que mais tarde iria conhecer como Barack Obama, isto mesmo o nome dele é este.
Como em toda cidade peguei minha câmera e fui tirar algumas fotos e ao voltar me dirigi aos meninos que estavam a nos observar, dentre eles o menino solitário que havia visto ao chegar. Sempre quando começamos a conversar aqui usamos o cumprimento. – Kuma? Stá dirituComo sempre um sorriso se abre no rosto dos meninos ao verem um branco pelele, sim é assim que nós muito brancos somos chamados aqui, como um Branco pelele fala Kriol e respondem com aquele sorriso contido. Perguntei os nomes deles e a maioria tinha nome ocidental e soube o nome do pequeno solitário, Elias. Brinquei com eles um pouco e resolvi oferecer uma foto deles para eles, eles aceitaram e ficaram eufóricos, neste momento vi algo interessante.
Restos da Guarita do antigo quartel
O pequeno Elias estava sozinho por não ter irmãos e os outros no momento de acertar as coisas não levavam em conta muito a opnião dele. Coloquei todos juntos e tirei uma foto, mostrei para eles e aguardei nossa equipe montar o material para eu , "Laba foto". Perguntei então quais eram irmãos de quais, e o pequeno Elias ia de um grupo para o outro e os irmãos o empurravam. Daí resolvi imprimir uma foto por família para que eles pudessem guardar e o pequeno Elias ficou com uma foto só para ele.

Começamos o trabalho e esta notícia que tinha alguem tirando foto correu rápido e vários adolescentes vieram para perto para ver se conseguiam também. Como sempre comecei a conversar com os meninos e sempre quando sabem que sou Brasileiro eles vem falar de Neymar e Ronaldinho. Perguntaram da minha vida e falei e na hora que souberam que era o meu brevet de paraquedismo começaram a se imaginar voando, um falou que iria comprar um paraquedas e os outros fizeram chacota, daí com uma sacola e uma pedra e um pedaço de pano fiz um paraquedas de bricadeira, em alguns minutos tinham dezenas de meninos jogando paraquedas de sacola plástica para o ar.
Elias e sua turminha.
Já neste momento o pequeno Elias não soltava minha mão, segurar na mão aqui é sinal de amizade, e eu comecei a chamar ele de amigo. Fui conhecer o hospital onde pude conversar com um padre brasileiro que estava lá, conheci o diretor do Hospital e ao lado sempre estava o pequeno Elias, quando entrei pedi para que ele ficasse e ele obedientemente ficou.
Na hora de ir embora, fiquei com algo na cabeça, como ajudar aquele meu amigo pequeno que tinha acabado de conquistar a amizade, andei em algumas barracas da tabanca e ví uma bola e a comprei por US$  2,5 e quando voltei para terminar de guardar as coisas do escritório improvisado, os meninos não entenderam porque eu estava com aquela bola na mão, daí eu chamei – Amigo bim aqui, iste bola i pa abo. (Amigo vem aqui, esta bola é para você), e comecei uma rápida conversa em Kriol , perguntei se conhecia Deus, ele disse que SIM, completei a pergunta, você conhece Deus por Muhammed ou por Jesus, ele me disse Zesus, então disse, seja um menino bom porque Jesus te ama e ele manda pessoas do outro lado do mundo para dar presentes. Ele pegou a bola e uma amiga da Guarda Nacional, o interpelou, - Diz obrigado. E ele com olho cheio de lágrimas falou obrigado.

Este meu ato com o Elias foi para poder tentar levar um jovem solitário a ter algo que possa o colocar em evidência e como dizemos no Brasil, todos querem ser amigo do dono da bola. E sempre que eu puder fazer algo para ajudar ou tirar o sorriso de uma pessoa eu o farei em nome de Jesus.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Sistema de trabalho nas nações unidas

Equipe mista do Processo de Certificação 2015
      Muitos tem o sonho de servir nas nações unidas e com toda certeza tem vontade de trabalhar muito por pouco dinheiro. Existem várias carreiras nas Nações unidas para você ter uma idéia acesse www. careers.un.org . Aqui vamos falar um pouco do serviço de UNPOL e da minha experiência aqui na Guiné Bissau.
        O trabalho de United Nations Police (UNPOL) é considerado seconded ou destacado ,  contrato diferenciado de todos os demais na ONU, enquanto alguns tem vários direitos nós não dispomos de tantos. Então leia bem sobre a função que deseja desempenhar para não ser pego de surpresa
       Quando eu cheguei na Guiné era uma noite como outra qualquer, já cheguei com um Stress forte, pois havia perdido minha mala como vocês já leram, primeira semana , no outro dia logo cedo comecei a trabalhar, aqui trabalhamos de segunda a segunda e como compensação temos o CTO (Compensatory Time Out), que é calculado 0.2 dias de folga por cada dia trabalhado. Normalmente acumulamos os CTO para fazermos viagens, visitar a família. Destes dias só podemos tirar 12 de cada vez, podendo somar com os dias de AL (Anual Leave) que são as férias anuais, o qual também só pode somar 12 dias. Algumas vezes pode-se tirar 24 dias de uma só vez. A melhor coisa é começar a programar desde o primeiro dia.
Policiais da Esquadra de Buba
           Você deve estar se perguntando o que se tem tanto para fazer que não se tira folga semanal, eu explico, onde tem uma missão de paz é porque se necessita de ajuda e não é ajuda pontual, as nações unidas não mantém missões só por capricho, quanto mais você quiser e puder, mais irá trabalhar. No nosso caso que é uma missão do DPA (Departament of Political an Affair) onde nosso serviço é mais técnico e de assessoria, nos finais de semana normalmente estamos em serviço interno coordenando as atividades da próxima semana. No meu caso eu estou em campo trabalhando com programas sociais.

     Dentro da Missão também temos as viagens internas  as quais nos cobram mais que o normal, e durante estas viagens você tem a chance de ver a realidade longe das áreas de maior atuação da ajuda humanitária. Durante estas viagens recebemos um pouco a mais na diária para compensar os gastos o que chamamos de DSA.
       Falando em remuneração os UNPOLs recebem o MSA (Mission Subsistence Allowance) Subisidio para subisistencia. O valor varia de missão para a missão, pode ser de US$ 56 por dia à US$ 180. Temos que lembrar que a vida em locais de crise para os internacionais é mais cara. Como normalmente o estado está ausente, o controle inexiste por isso os preço para nós chegam a ser maiores do que em lugares caros no mundo. Lembrei também dos Policias que não recebem salário em seus países e ainda precisam enviar dinheiro para casa, deixando a vida ainda mais dificil.
Combatentes da Guerra da Libertação de 74 Ainda na ativa
       Em se falando de família, nas missões não se pode levar familiares e quando os UNPOLs decidem fazer, como eu, fazem por conta e risco, pois em caso de problemas somos os últimos a serem evacuados e a ONU não se responsabiliza por seus familiares. Sei que muitos não trazem estes por não se ter muita opção, mas se tiver como as crianças estudares, o que não é o caso da Guiné, recomendo que os levem, pois eles poderão amadurecer muito vendo as dificuldades reais do mundo. Desta feita tem que se ter um plano de evacuação próprio para a Família. Aqui na Guiné Bissau os golpes de estados são recorrentes e a segurança nós que provemos.
        Então sem mistério, na missão pode-se trabalhar muito, corremos risco de vida sim, muitos funcionários das Nações Unidas já morreram este ano, pode-se ganhar bem, como pode se fazer dívida como é meu caso.

       Prepare sua mente, seu corpo e espirito, se vier para uma missão venha para ajudar aqueles que precisam e esqueçam que o dinheiro não compensa o sacrifício.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Entendendo a diversidade

Todos que se voluntariam para uma missão estão muito ou totalmente empolgados, desde que somos selecionados para uma determinada missão começamos a estudar sobre o povo do local os problemas e tudo que tem haver com a situação que iremos nos deparar. Cada um tem uma experiência de vida e que fazer o seu melhor.
Aulas de Defesa Pessoal
Quando iniciamos os trabalhos acreditamos que temos todo o conhecimento para “salvar o mundo” e muitas vezes esquecemos de alguns detalhes essenciais do trabalho o “cultural respect” ou respeito cultural, de uma forma infantil pensamos que este respeito é só com relação a roupasreligiões e costumes sociais, mas aprendemos que vai bem além disto, aliás isto é só a ponta cultural de um povo. O respeito cultural passa por entender as raízes de habitos comuns de um povo tal como seu tempo e seus objetivos, vivendo este pouco tempo na missão já aprendi isto, nenhum povo vê o mundo da mesma forma, poderia aqui descrever algumas generalidades de alguns povos, mas não vem ao caso. O importante é analisar sob a luz da sociologia histórica e contruir sua forma de trabalho sobre a egede da psicologia social.
Este respeito cultural que sitamos tem que ser orientado para um empoderamento nacional, onde todo seu trabalho tem o objetivo de levar as pessoas , os nacionais  como chamamos, a pensarem seus próprios caminhos e você trabalhar como agente catalizador de conhecimento global e direcionador de ações.
Não pode fazer parte deste trabalho a intolerancia e falta de perseverança, pois as ações em países onde a ONU se faz presente tem que ser feitas com calma e respeito, muitas ações só se pode mensurar seus resultados anos ou década depois e nossa estada aqui é de no máximo 3 anos.

A Esquadra Modelo

Nos últimos dias existiram algumas situações as quais me levaram a procurar entender mais cada uma destas ações como Police Adviser. Vou aqui contar para vocês.
Fui designado como ponto focal de uma unidade de polícia modelo, a função do ponto focal é se dedicar diretamente a missão de desenvolver atividades de melhoria, sendo a ligação dos
Primeira Esquadra Construida pela ONU

Nacionais com o Sistema das Nações Unidas. Ainda fico espantado com situação de ser o representante de centenas de países que compõe as Nações Unidas..

A Esquadra Modelo ou MPS como chamamos internamente, foi projeto criado por policiais como eu e teve sua execução iniciada por brasilieiros, a construção foi acompanhada pelo atual comandante geral da PMDF Cel Cezar e após a construção se seguiram vários policiais os quais cumpriram seu papel de monitorar, supervisionar e assessorar fazendo com  que chegassemos até o dia de hoje. Cada um com sua forma de trabalho e visão de mundo. Mas como todo sonhandor cheguei com gás e resolvi aprimorar o projeto, saindo um pouco do convencional e aplicando todo o conhecimento que adquiri como PM no DF.

Respeitando a forma dos Guineenses pensarem venho propondo e articulando ações, para melhorar o ambiente, ganhar a confiança da população e trazer ações eficazes na transformação da comunidade. Trabalhando na orientação de trabalhos desde os mais simples até os mais complexos e com o conhecimento do Policiais envolvidos já se pode ver alguns resultados e com toda certeza em pouco tempos teremos mais e melhores para contar.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Postura de um Missionário da ONU

As Missões de Paz são estabelecidas em países que na sua maioria cansaram de lutar e se encontram em situação muito precária, para se estabelecer uma Missão se faz necessário que as partes beligerantes concordem e o país garanta a segurança das pessoas envolvidas, daí  sabemos que os locais sempre estão em “petição de miséria” como diria a minha finada mãe.
Sabemos que todos tempos problemas e sem deixa-los de lado deixamos nossos lares para ajudar aqueles que tem muito mais problemas que nós, deixamos o conforto da nossa casa e dos familiares para viver em locais como containers, barracas ou em casas em bairros que em nossas cidades seriam bem precários.
Aqui em Bissau eu vivo em um apartamento em um Bairro chamado Chão de Papel, o mais antigo da cidade, problemas temos muitos. Não tem asfalto, mesmo com a casa fechada o dia todo
uma poeira fina entra e toma conta de tudo, sem contar que o prédio é antigo, só dois dos 5 apartamentos possuem energia elétrica.
Falando em energia elétrica, aqui a energia é pré-paga, mas todos os dias falta, são horas sem energia e para isto temos que ter gerador para poder manter o mínimo. E quando se fala de luz se fala de água, aqui ninguém bebe água da torneira, pois não é potável, temos que ferver ou utilizar água mineral para tudo, até para escovar os dentes. Nos banheiros sempre mantemos baldes de 100 litros de água para banho e descarga, pois todo dia falta.
Tenho alguma regalia, trouxe meu vídeo game para me distrair e comprei uma televisão por aqui, em um preço muito alto, porque o preço para nós internacionais sempre é bem mais caro. Outra coisa que tentamos fazer para nos distrair é reunir para comer juntos e fazer algumas confraternizações, toda semana assistimos filmes juntos.
Um grande problema também é a distância da família, tentamos contato diário pela internet quando esta ajuda, muitos gastam grandes quantias de telefone para ligar para suas famílias, no caso da nossa missão ela é Family Mission, ou seja, podemos estar com a família perto, eu pude contar com isso trazer minha esposa para perto.
Problemas acontecem no Brasil também e ficamos
mais nervosos que o normal, temos que gerenciar as coisas a distância e isto é muito estressante.
Mas temos que falar do lado bom, aqui podemos ser uteis, aprender muito, transmitir conhecimento, em uma missão como a UNIOGBIS é preciso policiais que queiram fazer a diferença
e tenham habilidade em todas a áreas, para se ter ideia estou como ponto focal em uma unidade modelo e estou assossorando desde o comandante até os policiais na rua, com estabelecimento de procedimentos, ensinando técnicas, gerenciando conflitos e estimulando. Além disto tudo tem a questão do idioma, eu trabalho o dia inteiro com pessoas falando Kriol guineense, ao chegar na UNIOGBIS meu companheiro é espanhol e os documentos que temos que fazer todos os dias são em inglês.
É um aprendizado intenso e muito gratificante, só temos que renunciar a nós mesmos e servir da melhor forma. Então antes de vir para a missão prepare corpo, alma e espírito. Temos que estar sempre prontos e altivos, nunca demonstrar nosso cansaço e tristeza. Altruísmo é a palavra chave.

UN Never sleeps

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Abnegação durante a missão

Quando somos chamados para servir ao próximo temos que estar prontos e dispostos a embarcar no próximo navio e como sempre não conseguimos realizar todos os desejos e necessidades antes, por isto temos que estar prontos para abnegar de algumas coisas e ver positivamente todas as situações. Hoje foi meu casamento, um dia especial e que vai entrar para minha história e alguns vou achar estranho porque eu estou na África e minha esposa no Brasil. Mas vamos ao início.
Tudo começou quando eu e minha esposa resolvemos morar juntos e começar nosso relacionamento conjugal, estávamos até então impedidos de nos casar, pois eu estava em meio a um processo de divórcio complicado, o qual se arrastou por anos.
Durante este tempo nossa vida continuou inalterada e vivíamos como sempre muito bem, apareceu a oportunidade de fazer a seleção para Missão de Paz, como sempre perguntávamos aos outros sobre como seria e quanto tempo levaria até a primeira missão, todos diziam de 6 meses a até anos, mas como já sabem fui convocado quase que imediatamente e neste meio tempo o processo de divórcio se concluiu e com todos os impedimentos por terra começamos o processo legal para o casamento, acreditávamos que mesmo eu sendo convocado as etapas seguintes seriam longas, aos moldes dos outros, mas não veio tudo muito rápido e com data marcada para a minha viagem. Com tudo isto tentamos solicitar a dispensa de proclamas para casar antes do recesso jurídico de final de ano, mas foi negado.
Veio meu “deployment” e vim para a missão, mas a vida continua e como estava programado o processo de casamento seguiu e no dia de hoje me casei.
Em honra a minha esposa, limpei a casa, coloquei a melhor farda (até me perfumei), preparei o ponto e torci para a internet ajudar e graças ao bom Deus, tudo deu certo.
Pela internet acompanhei toda a celebração feita pela Juiza de Paz que mais amo a Dr. Sandra, minha amiga-advogada-tia, me emocionei com as palavras dela e ao ver pela tela do computador a mulher que eu amo. Aprendi sobre o “pequi” que é o casamento, quer saber mais pergunte a Sandrinha, fiz caretas pela câmera para meus amigos Maira e Oliveira, sacaniei com meu irmão Alexandre e mandei beijos e declarações de amor para minha esposa.
Por um lado triste por não poder estar lá, mas por outro feliz e honrado por estar rodeado de pessoas de tão elevada estirpe como os que Deus colocou ao meu redor.

Hoje sei que a abnegação faz parte da minha vida de serviço ao próximo, pois não sei porque, eu tenho mais felicidade do que tristeza nestas coisas e hoje posso como um BOINA AZUL dizer: Fui realmente feito para servir e proteger.

sábado, 31 de janeiro de 2015

Nothing more than feelings

Hoje como todos os dias do ultimo mês, fui para mais um dia com toda a vontade de fazer mais e melhor, mas algo começou diferente em minha mente. Logo cedo olhei pela janela e escutei lá ao fundo o som da mesquita e a oração matinal, e senti como se não fizesse realmente parte daquilo, como não faço mesmo.
Fui logo cedo ao Agrupamento de Escuteiros, Escuteiros mesmo é assim em português de Portugal, vi os jovens chegando, irmãos escoteiros, mas eu era o diferente no meio deles, eu com meu uniforme tradicional e eles como jovens Guinenses, com seu estilo próprio, olhavam para mim e acreditavam que eu seria mais um estrangeiro que estava ali de passagem, mesmo tentando me enturmar falando Kriol, sendo simpático e bem recebido, pela primeira vez me senti, em um grupo escoteiro, um peixe fora d’água.


Fui para Missão as 09h, no meio da atividade escoteira, pois tínhamos que ir a Quiamel, uma cidade a 40 km de Bissau. Estávamos procurando algumas pessoas que meu amigo José não lembrava onde moravam corretamente e só tínhamos as fotos deles.
Paramos na Vila de Tôr, para perguntar, neste momento me senti a pessoa mais diferente do mundo, metade da vila estava a nossa volta e o José Mate (o espanhol), com as fotos estava rodeado de pessoas  que tentavam se comunicar com ele. A minha volta um jovem que falava Kriol e Inglês e tentando nos ajudar. Todas as informações dadas não estavam certas.
Continuamos pela pista e sempre que passávamos por alguma casa com crianças eles gritavam “BRANCO”, coisa normal aqui na Guiné, mas hoje senti mais que nos outros dias.
Por fim depois de algumas horas encontramos as pessoas que procurávamos, fizemos o contanto, como sempre complicado, pois eu tentando traduzir do espanhol do José para o Kriol dos nacionais e vários jovens a nos rodear falando um pouco de português, Kriol e Papel.


Na volta enquanto estava dirigindo, perdido em meus pensamentos me senti como um total estranho aqui, como se estivesse em ambiente hostil, o que aqui para mim nunca foi. A sensação que tive é inexplicável, um mix de melancolia e satisfação de estar vencendo meus limites me colocando em risco só para ajudar os outros.

Que Deus possa me fazer cada vez mais forte e sábio e que isto seja, NADA MAIS QUE SENTIMENTOS .

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Medalha das Nações Unidas

Hoje aconteceu a primeira Parada para a entrega de medalhas aos Policiais e Militares que servem na Guiné-Bissau. Onde foram agraciados policiais de militares de 5 países sendo eles EUA, Portugal, Brasil, Paraguai e Espanha.
Do Brasil o Capitão Carlos Souza da PMDF,da Espanha o Inspector de Polícia José Mate, dos Estado Unidos da América a Detetive Dee Dee Roedriguez da Políca do Estado de Montana, do Paraguay o Comissário Principal de polícia Oscar Pereira, de Portugal o Tenente-Coronel do Exército Augusto Sepulveda e a Capitã de Policia Ana Pereira.
Foi uma cerimônia marcada com prensença de vários embaixadores, dos chefes da polícias da Guiné e o alto comando da UNOGBIS. Fui escalado como mestre de ceimônia por ser nativo na lingua portuguesa e o Cap Carlos foi o orador dos agraciados pela medalha.
No segundo semestre serão agraciados os Policiais e militares que estão na missão e tiverem cumprido os requisitos para receber a medalha.
A Medalha
A medalha da Organização das Nações Unidas foi estabelecida pelo Secretário Geral das Nações Unidas em 16 de fevereiro de 1966, com o fim de ser entregue aos militares e policiais que estiverem a serviço da Nações Unidas. Assim, a entrega das medalhas especiais de serviço aos policiais das Nações Unidas é um momento único de reconhecimento e agradecimento pelos serviços prestados ao país e à paz mundial.
É um símbolo a ser utilizado com orgulho, no peito de cada um desses homens e mulheres que renunciam a sua vida cotidiana em seus países de origem para bem prestar este serviço à humanidade em um ambiente novo e na maior parte das vezes desconhecido.

Cada missão possui sua medalha e as Nações Unidas tem uma especial como foi o caso da de hoje.


quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Sobre Idiomas

Nos preparamos muito antes de vir a uma missão de paz, são dias e horas infindos lendo, treinando, assistindo nossos programas favoritos em inglês. Ficamos muito apreensivos com relação a isto, falar bem o Inglês ou Francês, mas quando chegamos tudo muda.
Cheguei na Guiné-Bissau e me deparei com um outro idioma, português mais próximo do de Portugal e o Kriol, lingua própria do país, que é usado para as diversas tribos se comunicarem entre si.
Fazendo meus estudos vi que a maioria da população é capaz de entender o Kriol, mas utilizam muito seus dialetos tribais e isto me encanta, pois gosto de aprender coisas novas. “ N’ misti papia kriol.”
Todos os dias aprendo uma palavra ou frase nova e me afundo em “gramáticas” de kriol, coloquei entre aspas porque não existe nada oficial quanto a forma de de falar kriol, muito menos escrever.
Outra barreira do idioma em ambiênte de missão de paz são os sotaques, pois são vários nativos em inglês como os americanos e os africanos colonizados pela inglaterra. Muitas vezes nem eles mesmo conseguem se entender.
A lingua oficial aqui na UNIGBIS é o Inglês e toda vez que queremos nos fazer entender falamos em inglês, todos os documentos precisam ser em inglês e quando vão para fora em português, daí o rala para nós é em dobro, todos veem até nós solicitar ajuda. Um fator importante a ser levado em conta aqui é que o Português local não é tão rebuscado quanto o Português e nem tão maleável quanto ao brasileiro.
Um final de semana estávamos almoçando e a cada momento era uma onda de um idioma, inglês base, depois portugues para interagir com os locais, daí mudava para o espanho sulamericano porque os “hermanos” estavam no centro da conversa e por vezes era o Italiano ou francês, para fazer os pedidos das comidas, uma experiência de “OUTROS MUNDOS”.
Então por mais que nós nos preparemos, sempre terá algo mais para aprender sempre que se chega em um país novo, com uma cultura rica e diversa como a Guiné-Bissau, nos sentimos em uma torre de babel, mas onde todos se entendem ou se esforçam para se entender.


Kriol da Guiné

Kriol (crioulo) é uma língua franca de 60% da população da Guiné-Bissau, sendo falado também no Senegal. 160 mil pessoas usam crioulo como primeira língua na Guiné Bissau e mais 600 mil como segunda língua, enquanto que cerca de 13% da população fala português.
É também conhecido como “crioulo da Guiné” ou “crioulo guineense”. Junto com o Crioulo de Cabo Verde forma o Grupo Crioulo da Alta-Guiné, o mais antigo de Línguas Crioula com base na Língua Portuguesa.
Há três principais dialetos no crioulo da Guiné-Bissau e do Senegal:
·           Bissau e Bolama,
·           Bafatá
·           CacheuZiguinchor
Esses dialetos foram influenciados por idiomas de povos próximos como mandingasmanjacospapéis. Porém, 80% do vocabulário crioulo da Guiné-Bissau vêm do Português.
Mercadores portugueses e o pessoal assentado na região se miscigenaram aos nativos, conforme o hábito dos exploradores portugueses que causou a existência de muitos idiomas crioulos de origem lusitana em todo o mundo. Um pequeno grupo de assentamentos, dos chamados lançados facilitou a intermediação no contato entre os europeus e os nativos, através da influência Portuguesa via língua e outros aspectos culturais.

Fonte: Wikkipedia

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Hay que endurecer sem perder la ternura.

Por muito tempo escutava esta frase e muito parecia coisa de revolucionário ou de paixão
não correspondida, mas hoje pude saber exatamente o que é isto.
Com um pouco mais de uma semana e muitos novos conceitos, continuo a estabelecer os contatos e assumir a função que é de meu antecessor, Cap Carlos Souza. São muitas frentes de trabalho e muitas pessoas para esquentar os contatos.
Na terça feira passada, no final do dia sentamos em uma padaria da cidade na rotunda* do Império em Guiné Bissau e fomos tomar café com um policial que trabalha em uma das ilhas da Guiné Bissau, foi uma grande aula de força de vontade.
O Cabo Armando o é uma pessoa excepcional um homem forte e mão firme, que lutou na ultima guerra em Bissau, sofreu a dor do lado que perdeu, mas sempre se manteve sorrindo, o Cap Carlos já tinha contato com o Armando há alguns meses e já tinha ido na ilha a qual ele é a autoridade e pode confirmar e também me contar várias histórias como a do Hipopótamo que vive na ilha.
O cabo Amaro é o único policial na sua ilha Orango e responsável por mais 4 ilhas ao redor, o mesmo faz o atendimento de todas as ocorrências e juntos com os mais velhos de cada vila decide sobre os pequenos delitos e as medida corretivas de cada pessoa que saia da linha. Conforme ele disse existem vários meses sem nenhuma ocorrência no local, onde o mesmo controla de uma forma espetacular, pois não possui veículo e mesmo assim caminha dezenas de km para atender uma simples ocorrência. A ilha onde ele vive não é servida de barco publico e o mesmo vive do que planta e das dezenas de dólares que recebe.
A situação para nós, logo de inicio nos comove e nos traz a mente o que poderia fazer para ajuda-lo diretamente, mas temos que lembra que estamos aqui representando centenas de países temos que pensar como se pode mudar a situação de forma geral atingindo o maior número de pessoas.
Confesso que com a história dele, deu vontade de sacar a carteira e diminuir o sofrimento de uma pessoa abnegada como ele, que vive em lugar onde outros policiais não vão e não querem, subsistem com o que conseguem da natureza e suas lavouras e ainda tem um brilho de dizer sou policial.
Detalhe ele ainda está treinando um auxiliar que não recebe nada e está aguardando a próxima incorporação para se tornar policial e poder se tornar um policial oficialmente.
Hoje me endureci, mas espero não perder a ternura, pois o trabalho é grande e árduo existem dezenas, qui Sá, centenas de Armando por Bissau e pelo mundo aguardando uma ajuda.
Vamos trabalhar e melhorar o mundo com nosso suor.


* Rotunda – intercessão rotatória, balão, queijinho (minas gerais)